A advogada Andrea Zaninelo sempre ouviu normalmente, até que há nove anos o surgimento de uma doença autoimune começou a causar problemas em sua audição do lado esquerdo. Mesmo com tratamento, os sons nunca mais voltaram a ser tão claros quanto antes. “Isso dificultou não só a minha comunicação, mas também a integração social”, explica.
Ela tentou apostar no uso de um aparelho auditivo convencional, mas a solução não funcionou para o seu caso. Além de sentir dor no canal do ouvido, acabou desenvolvendo um fungo na região.
O quadro começou a mudar quando o seu médico otorrinolaringologista, Miguel Angelo Hyppolito, falou sobre a prótese ancorada em osso, que poderia ser implantada a partir de um novo método disponível no país e já aplicado na Dinamarca.
Melhorias trazidas pela técnica
Hyppolito, que atua no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, em São Paulo, explica que uma prótese feita em titânio é colocada atrás da orelha, no osso do crânio. Depois, através de um pino (abutment), o aparelho externo é conectado. A novidade está no modo como o procedimento pode ser realizado, a partir de uma técnica denominada MIPS – sigla em inglês para Minimally Invasive Ponto Surgery.
“Em mãos experientes, a cirurgia pode ser feita entre cinco e 15 minutos, com anestesia local ou sedação leve. Anteriormente, exigia anestesia geral para uma incisão, com um elevado risco de rejeição por problemas de pele local ou por infecção”, explica.
Além disso, o tempo de espera para a conexão do aparelho externo, que funciona como processador do som, variava de três a quatro meses após a cirurgia. Com a nova técnica, esse tempo pode ser reduzido para duas semanas. Assim, a recuperação do paciente – que não precisa ficar internado - também é mais rápida.
No caso de Andrea, a ativação aconteceu no dia 7 de agosto. Embora ainda não possa falar em detalhes, pelo pouco tempo transcorrido, ela já afirma que o som recebido é muito superior, com uma nitidez que a advogada não imagina que poderia voltar a ter na audição.
Tecnologia gratuita
O médico ressalta que a colocação da prótese ancorada em osso já é feita pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e é indicada para quadros com perda auditiva relacionada a problemas no ouvido externo ou médio e ainda para casos de surdez unilateral. O uso da nova técnica para a sua implantação, no entanto, depende de um cirurgião otorrinolaringologista com treinamento específico.