O Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers) realizou nesta sexta-feira, 23, operação de Vistorias às Emergência de Porto Alegre (hospitais e UPAS) por conta da superlotação. Sob a liderança do vice-presidente do Sindicato, Felipe Vasconcelos, cinco equipes saíram da sede da entidade médica percorrendo unidades de saúde da Capital. O objetivo da ação, que mobilizou mais de 30 profissionais, foi verificar as condições de trabalho dos médicos e de atendimento à população, além de observar se há falta de medicamentos, equipamentos médicos, produtos descartáveis (seringa, cateteres, etc.), falta de EPIs (máscaras, luvas, aventais, etc.). Os diretores do Simers ainda verificaram as condições de trabalho das equipes médicas, além da segurança e situação de violência. O passo seguinte será elaborar um relatório com o que foi encontrado e, oportunamente, entregue para as autoridades estadual e municipal.
“Encontramos superlotação e condições de precarização no atendimento aos pacientes em algumas unidades, muitos deles aguardando nos corredores há dias, por leitos. Conversamos com os médicos e agora, após os relatos, estamos elaborando um relatório com as condições de trabalho e melhorias que devem ser feitas no sistema de saúde”, observa o vice-presidente do Simers, Felipe Vasconcelos. Ele acrescenta que a superlotação registrada no Estado também impacta e agrava a situação de Porto Alegre. A rede hospitalar de Porto Alegre opera em níveis alarmantes, com diversos hospitais e unidades de pronto atendimento excedendo a capacidade máxima.
Vistorias
UPA Moacyr Scliar – Zona Norte
A equipe do Simers, liderada pela diretora da entidade, Denise Affonso, identificou algumas irregularidades relacionadas à estrutura e às condições de trabalho dos médicos. Os atendimentos na UPA Moacyr Scliar estão sobrecarregados, com uma demanda diária excessiva. Estima-se que cerca de 60% dos atendimentos sejam realizados, enquanto o restante não é possível devido à alta demanda e às limitações estruturais. Não há unidade de pediatria.
Hospital Conceição
Durante visita à instituição, constatou-se a superlotação da emergência. A escassez de médicos para atender à alta demanda tem comprometido a qualidade do atendimento e gerado uma sobrecarga significativa aos profissionais. Muitos relataram, de forma individual, a falta de estrutura adequada para enfrentar o volume de pacientes.
Cristo Redentor
A equipe do Simers realizou uma visita técnica ao Hospital Cristo Redentor. Segundo a diretora da entidade, Denise Affonso, a avaliação foi bastante positiva. A unidade realiza, em média, 200 atendimentos diários e opera com cerca de 50% dos leitos ocupados. Referência em traumatologia, o hospital mantém um fluxo constante de pacientes. Embora os médicos tenham relatado momentos de sobrecarga, destacaram que essa não é uma situação recorrente.
UPA Lomba do Pinheiro
A equipe do Simers, liderada pela diretora do Sindicato, Valérie Kreutz, esteve na Lomba do Pinheiro e constatou que casos de violência verbal contra os profissionais é um dos principais problemas em época de grande demanda. A empresa que administra a UPA, ao contrário da maioria, contrata a equipe via CLT, o que traz mais segurança aos médicos.
Hospital da Restinga e Extremo-Sul
Equipe do Simers recebeu como relato que a violência preocupa os médicos no Hospital da Restinga e Extremo-Sul. Nos últimos dias, dois casos foram registrados: um paciente não se conformou em ser liberado e agrediu verbalmente a médica. Ele teve de ser retirado com auxílio da Polícia Civil. Em outro registro, um segurança foi a vítima. A instituição não possui maternidade. Gestantes em trabalho de parto precisam ser encaminhadas ao Fêmina, 21 km de distância.
Hospital Vila Nova
No Hospital Vila Nova, a equipe do Simers, liderada pela diretora da entidade, Valérie Kreutz, verificou que a emergência adulta atende cerca de 300 consultas em dias de alta demanda, o dobro do geralmente registrado. Também relatam casos de violência verbal.
Pronto Cruzeiro do Sul – PACS
O vice-presidente do Simers, Felipe Vasconcelos, liderou equipe que se reuniu com médicos e gestores do PACS e realizou uma vistoria nas emergências adulta e pediátrica. Ele esteve acompanhado pelo diretor da entidade, Ricardo Pedrini. De acordo com Felipe Vasconcelos, foi constatado um cenário de superlotação, além da falta de medicamentos. Também chamou atenção a presença de pacientes que necessitam de leitos em UTI, mas permanecem na emergência.
Pronto Atendimento Bom Jesus
A equipe coordenada pelo diretor do Simers, Felipe Vasconcelos, constatou que o Pronto Atendimentos Bom Jesus enfrenta superlotação, com pacientes aguardando por leitos durante vários dias. O local atende cerca de seis mil pessoas por mês, o que representa uma média de 200 atendimentos diários. As duas unidades enfrentam um problema comum: a superlotação e as dificuldades na rede de saúde de Porto Alegre.
Santa Casa
A equipe coordenada pela diretora do Simers, Maria Cecília Petry Matzembacher, esteve na Emergência SUS, da Santa Casa e constatou que ela está sobrecarregada, operando com 300% da sua capacidade. Com apenas 28 leitos cadastrados e atendimentos restritos a casos gravíssimos como AVCs, infartos pacientes oncológicos, o hospital não possui leitos reservados para internação direta da emergência. Os fluxos de transferência dentro do próprio complexo enfrentam entraves, e muitos pacientes chegam com diagnósticos tardios, reflexo da precariedade na atenção básica. Apesar disso, não há relatos de falta de insumos ou atrasos salariais. A maioria dos atendidos vem de fora da capital, o que revela a centralização da alta complexidade na instituição.
Hospital de Pronto Socorro (HPS)
A equipe coordenada pela diretora do Simers, Maria Cecília Petry Matzembacher, esteve no HPS e encontrou um quadro preocupante de superutilização: metade dos atendimentos diários, que chegam a 350, poderiam ser resolvidos na rede básica. Apesar de não faltar insumos nem medicamentos, a sala amarela acumula dezenas de pacientes aguardando leito. O principal gargalo está na equipe de enfermagem, que é insuficiente para a demanda. O hospital acaba absorvendo casos leves e moderados, que deveriam ser resolvidos em unidades de saúde da atenção primária.
Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA)
A realidade que a equipe do Simers encontrou no HCPA foi que há 200% de ocupação. O hospital vive um colapso silencioso. São 123 pacientes aguardando atendimento e 60 à espera de leito clínico, enquanto a emergência dispõe de apenas 56 leitos cadastrados. A equipe médica já atua no limite, com 50 profissionais, quando o ideal seria pelo menos 54. A espera para transferência chega a 14 dias. Falta um hospital de retaguarda para desafogar a rede.
Hospital Ernesto Dornelles
Ao contrário de outras emergências, no Hospital Ernesto Dornelles, foi verificado que o atendimento estava normalizado, após atendimento ficar restrito em razão da lotação de 100%. A casa de saúde atende pacientes da rede privada e credenciados do IPÊ. A sala de espera não tinha filas. Segundo o médico responsável, no local, atuam cinco médicos por turno. Ocorrem 4,5 mil atendimentos mensais, dos quais, 800 são convertidos em internações. Ao todo, atuam 55 médicos na emergência, todos contratados em regime CLT. Não há registros de atrasos em pagamentos e baixa rotatividade.
Hospital São Lucas da PUCRS
A equipe do Simers esteve no Huspital São Lucas e constatou que a emergência SUS estava com 300% de superlotação. Segundo funcionários, é comum que os pacientes desistam da espera. Atualmente, o hospital não tem mais atendimento SUS para saúde da mulher, como obstetrícia, pediatria e psiquiatria. O atendimento SUS conta com 10 leitos clínicos e 2 de UTI. Havia 28 pacientes internados nesta manhã. Os pacientes que não puderam ser acomodados nos leitos recebem atendimentos em sofás e cadeiras no corredor. A média de espera para internação desses pacientes é de três a cinco dias. A média de atendimentos diários é de 40 a 50 pacientes. Segundo a coordenação da unidade, quando a lotação ultrapassa os 200% é feita uma notificação ao poder público, mas os atendimentos não são interrompidos.
Fotos: Ascom/Simers
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