A situação, que atinge hospitais como o Clínicas, o Presidente Vargas e o Criança Conceição, revela o esgotamento do sistema. Para o Núcleo de Pediatria do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers), essa crise não é novidade: trata-se do resultado direto do desmonte da atenção básica e da retirada de pediatras das Unidades Básicas de Saúde (UBSs), agravada pela ausência de infraestrutura, falta de médicos com formação adequada e pela inexistência de um sistema de comunicação e referência eficiente dentro do SUS.
"O Simers vem alertando há muito tempo sobre o esfacelamento da assistência básica em Porto Alegre. O desaparecimento dos pediatras nas UBSs e a escassez de profissionais com preparo técnico específico assumindo essas funções — muitas vezes clínicos gerais sem especialidade, ou mesmo médicos de Família e Comunidade (MFC), mas submetidos a vínculos precários e à alta rotatividade causada por contratos como pessoa jurídica — faz com que a população perca o acesso ao cuidado preventivo e contínuo. Essa fragilidade na atenção primária acaba pressionando ainda mais as emergências, que enfrentam trocas constantes de profissionais e passam a receber casos que deveriam ser resolvidos na base do sistema", explica Valèrie Kreutz, coordenadora do Núcleo.
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O Sindicato também denuncia a ausência de prontuários interligados e a falha na comunicação entre unidades, o que impede o redirecionamento adequado de fichas verdes (casos sem urgência), que acabam se acumulando nas emergências hospitalares.
"A solução para esse caos passa, urgentemente, pela reestruturação da atenção básica, com a reincorporação de pediatras e MFCs nas UBSs e a implementação de um sistema inteligente de regulação e comunicação. Só assim será possível evitar novos colapsos como o que estamos vendo agora", afirma Valèrie.
O Simers reforça que o cuidado infantil exige profissionais capacitados, estrutura adequada e planejamento. Sem isso, crises como a atual se tornam recorrentes — e quem sofre são as crianças e suas famílias.
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