Setembro Amarelo: álcool é porta de entrada para drogas e violência
A Luta

Setembro Amarelo: álcool é porta de entrada para drogas e violência

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23/09/2016 14:34

Que o uso e o abuso de álcool e drogas geram inúmeros problemas para a sociedade todos já sabem. O que impressiona, além dos dados alarmantes, é a falta de políticas públicas na área da saúde mental para conduzir uma solução eficaz para os fatores associados ao consumo destas substâncias. Seguindo a série de reportagens sobre saúde mental e à campanha Setembro Amarelo, o Sindicato Médico do RS (SIMERS) traz a reflexão de especialistas sobre o álcool e outras drogas, relacionando com os índices de mortalidade e violência que degradam e massacram famílias. De acordo com dados de 2015 da Organização das Nações Unidas (ONU), a cada ano, o álcool mata 3,3 milhões de pessoas. O número é maior que as mortes associadas a Aids, a tuberculose e a violência juntos. Outro levantamento do grupo aponta que cerca de 5% da população mundial entre 15 e 64 anos, o que corresponde a uma média de 243 milhões de pessoas, usa drogas ilícitas. O relatório aponta também a existência de uma média de 27 milhões de usuários de drogas problemáticos – aqueles que consomem drogas regularmente e apresentam distúrbios ou dependência. As consequências do uso desenfreado destas substâncias vão além, colocando este como um problema de saúde pública mundial. A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma que mais de 200 doenças e quase 5,9% das mortes no mundo estão ligadas ao consumo de álcool. São doenças infecciosas, acidentes de trânsito, ferimentos, homicídios, doenças cardiovasculares e diabetes. Um estudo da entidade mostra que o álcool é a causa de aproximadamente 80 mil mortes por ano no continente americano e que o Brasil é o quinto país com maior número de óbitos ligados ao consumo de bebidas. Setembro-amarelo-alcoolO álcool é a porta de entrada para o consumo de drogas e responsável por uma importante parcela dos casos de violência em todo o país, colocando o Brasil como recordista mundial no número de homicídios. O médico e atual ministro do Desenvolvimento Social e Agrário, Osmar Terra, ressaltou, em evento da Academia Sul-Rio-Grandense de Medicina no final de 2015, que são em torno de 60 mil homicídios por ano, muitos associados ao consumo destas substâncias. O psiquiatra e especialista em dependência química Sergio de Paula Ramos alerta para a necessidade de um maior controle na ingestão do álcool e investimentos em políticas públicas de saúde. “O álcool é um dos grandes vilões dos brasileiros em toda temática da violência. Se associa a 50% de todo gesto violento e chega a representar de 70 a 80% da violência doméstica registrada no país. O tráfico de drogas é um grande fator de contribuição à violência, mas o maior de todos é o álcool. O consumo de álcool, tabaco e outras drogas é responsável pelos atendimentos que mais comprometem o SUS e a assistência previdenciária. Se somarmos este pacote, talvez represente o maior rombo da previdência social”, diagnosticou Ramos. Outro fator levantado por Ramos, é o financiamento de campanhas políticas por parte da indústria do álcool, o que dificulta a implementação de políticas para a prevenção do consumo e vai na contramão dos interesses da população. “O consumo sempre começa com o álcool e a sua indústria é uma grande patrocinadora das campanhas dos políticos e, portanto, fica difícil que eles possam votar leis de interesse público que atentem contra os interesses da indústria. Nós devíamos fazer com o álcool o mesmo que já fizemos com o tabaco; simplesmente proibir a propaganda. Dessa forma, o consumo será diminuído, sobretudo em jovens, mas essa medida para ser aprovada precisa de um Congresso mais isento do que aquele que nós temos tido aqui”, completa. Também especialista no assunto, a psiquiatria Carla Bicca ressalta que é imprescindível que as autoridades criem ações com o intuito de prevenir e combater o uso de álcool e outras drogas. “Hoje as políticas de saúde são escassas e oferecem poucos serviços de acesso. Além disso, nós temos poucos recursos para o atendimento dessas pessoas e cada vez menos locais para internação”, lamenta. Os poucos recursos citados pela médica corroboram com a baixa assistência aos grupos nos meios alternativos do Rio Grande do Sul e Porto Alegre. É o caso das unidades de Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), criados com este propósito, mas que não suportam a demanda, até mesmo pelo seu horário de funcionamento. Efetivamente nenhum dos 181 CAPS do RS e os 12 de Porto Alegre funciona durante as 24 horas do dia. Os que deveriam atender durante este período, os CAPS AD III – destinados a atendimentos de pacientes com problemas de álcool e drogas – não acolhem novos pacientes nos finais de semana, quando atendem apenas a demanda interna. Novos pacientes só serão atendidos a partir de segunda-feira. Ao mesmo tempo, a demanda de saúde mental só cresce. Em 2015, o número de internações na área psiquiátrica no Rio Grande do Sul aumentou 5,5%. Os motivos são claros: o uso e abuso de álcool e drogas, que podem estar diretamente ligados ao alto índice de violência registrados no Estado e sua capital. Para o diretor do SIMERS, Germano Bonow, há um claro descompasso entre o fechamento de leitos psiquiátricos em hospitais especializados e a dificuldade em oferecer meios alternativos para o tratamento do doente psiquiátrico. “Isto nos levou a um desastre, a um crime com o doente mental. E a sociedade se deu conta por que tem problemas em casa, com alguém que bebe, que usa drogas, alguém que entra em surto psicótico, ou até mesmo um paciente de doença crônica que precise de tratamento prolongado, como o Mal de Alzheimer. A mortalidade na área de doenças mentais aumentou mais de 100% enquanto todas as outras causas de morte tiveram um crescimento de 20%”, reflete Bonow.      
Tags: Uso de drogas Alcoolismo Saúde Mental Setembro Amarelo Álcool e drogas

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