As marcas da depressão: dos sintomas ao tratamento
A Luta

As marcas da depressão: dos sintomas ao tratamento

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07/04/2017 08:51

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Cerca de 800 mil pessoas por ano no mundo tiram a própria vida devido à depressão.
Não é à toa que a depressão é conhecida como o mal do século. A doença atinge mais pessoas do que se imagina ao redor do mundo. Um estudo divulgado recentemente pela Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que a doença afeta 325 milhões de pessoas no planeta. De acordo com a mesma pesquisa, o Brasil é o país mais depressivo da América Latina e o terceiro do mundo, com 5,8% da população apresentando o transtorno. E conforme últimos dados do IBGE (2015), o Rio Grande do Sul é o Estado mais depressivo, totalizando 13,2% de pessoas adultas depressivas. Trata-se de uma doença grave, silenciosa, patológica, que se caracteriza pela perda da capacidade de sentir prazer, desesperança na vida, emoções a flor da pele e distúrbios do sono.  Além desses sintomas, é importante entender a diferença entre um abatimento passageiro do final de semana e a depressão, onde a tristeza e angustia são profundas e duram meses ou até mesmo anos. O jornalista Marcelo Monteiro enfrentou por aproximadamente oito meses os diversos problemas causados pela depressão. “Durante alguns dias comecei a sentir sintomas isolados por alguma razão que não sabia explicar. Não dormia direito, não sentia fome, perdi o apetite sexual, não escutava mais música e também não conseguia manter a concentração”, relata.

Importância do diagnóstico

Por ser um transtorno que se agrava com o passar dos dias e que envolve múltiplos fatores para o desenvolvimento da doença, especialistas dizem que não é incomum que as pessoas procurem ajuda tardiamente. Com Monteiro, não foi diferente. O jornalista percebeu o ápice quando não conseguia mais trabalhar, ficava angustiado e a única coisa que parecia proporcionar conforto era estar em seu quarto dormindo. “Chegava na redação do jornal e não conseguia fazer absolutamente nada. Olhava a tela branca do computador e era impossível me concentrar para escrever. Entrava em completo desespero. Tinha que sair do trabalho de qualquer jeito. Uns três dias passei no estacionamento da empresa. Minha maior satisfação era estar encerrado no meu quarto escuro dormindo, pois assim não passava pelas sensações ruins quando estava acordado”, conta. Depois de conviver com essas sensações por 20 dias, Monteiro resolveu procurar ajuda com o médico clínico da empresa, que na mesma hora concluiu o diagnóstico de depressão. Após uma semana da consulta, ele procurou um psiquiatra. A sensação de sentir-se preso por algo inexplicável é constante durante a depressão. Um dos momentos mais críticos e marcantes para Monteiro foi o dia em que resolveu pedir dispensa da empresa por causa do transtorno. “O meu último dia de trabalho, antes de pedir afastamento, foi inesquecível. Lembro que estava produzindo uma matéria, porém, novamente, eu não conseguia fazer nada. Então, enviei e-mail para um chefe, dizendo que precisava falar com ele urgente, entretanto, a resposta foi para eu aguardar uns cinco minutos. Estava desesperado e mandei e-mail para outra chefia que pode me receber na mesma hora. Expliquei minha situação e fui liberado por 15 dias”, relata. Nesse meio tempo, Monteiro passou enclausurado no ambiente em que lhe dava segurança: deitado na cama de seu quarto escuro. O tempo de afastamento passou e ele fez mais uma tentativa que resultou em frustração depois de uma hora e meia na redação do jornal. Foi afastado novamente, mas dessa vez o salário mensal foi substituído pelo auxílio- doença do INSS.

Principal causa de morte

Conforme a OMS, a depressão é a principal causa de morte por suicídio, cerca de 800 mil pessoas por ano no mundo tiram a própria vida. Apesar disso, não foi o caso do jornalista. Segundo ele, nunca cogitou cometer suicídio. “Eu nunca pensei em me matar, pois tenho problemas familiares e enxerguei que tirar a vida seria mais um problema, porém alguns momentos eu me conformei com a morte”, conta, acrescentando que, mesmo após muitas semanas de tratamento, a confiança não retornou imediatamente. Foram três meses depois do retorno ao trabalho para que Monteiro se sentisse realmente seguro de novo. Apesar de ainda frequentar o consultório psiquiátrico, uma vez a cada dois meses, e seguir com as medicações, ele afirma que sente medo de uma eventual recaída.

 Tratamento e prevenção:

Para começar, a depressão tem tratamento, mas assim como outros transtornos psiquiátricos, consiste em níveis de gravidade, que indicam qual abordagem deve ser adotada pelo médico. Conforme o psiquiatra e Coordenador do Comitê de Prevenção ao Suicídio, Rafael Araújo, há dois tipos de procedimento.  “Se a depressão for leve, a psicoterapia ajuda bastante, porém em casos mais graves, utilizam-se também os fármacos”, explica. Outro fator relevante esclarecido pelo psiquiatra é o fato de nem sempre a depressão vir da genética. “ Não ter ninguém com depressão na família, não significa que a pessoa não carregue o gene da doença”. Já em relação ao período de tratamento com remédios, o médico explica que o tempo do uso de medicação depende da quantidade de vezes em que o paciente foi diagnosticado com a doença. “No primeiro episódio, é recomendado de seis a doze meses. Na segunda vez, normalmente é de um a dois anos, mas também tem a depressão crônica que o indivíduo fica dependente das medicações por toda a vida”, esclarece Araújo.  Segundo o psiquiatra, estudos médicos indicam que 50% dos pacientes tem recaída. A prevenção consiste em alguns cuidados básicos com a saúde, como em muitas doenças. “A prevenção ideal para o transtorno de depressão é manter uma boa alimentação, praticar atividades física, reduzir o uso de álcool, ter amigos e alguma ocupação”, diz Araújo. Analisando a situação do Brasil, estando no topo do ranking mundial da depressão e sendo o país com maior taxa de pessoas depressivas na América Latina, Araújo enxerga que a situação da saúde pública contribui para o alto índice. “Muitas pessoas falham com as medicações, pois hoje há poucas opções de fármacos na rede pública no combate a depressão, e algumas não podem ingerir os medicamentos disponíveis por conta de outros problemas de saúde. Então, a rede pública precisa pedir ao Estado os outros remédios, entretendo o tempo de espera é grande”. Já em relação ao Rio Grande do Sul ser o Estado com mais pessoas com o transtorno, o médico acredita que há muitos municípios pequenos com baixa densidade populacional, causando a solidão nos moradores e contribuindo para esse cenário.

Campanha Dia Mundial de Saúde 2017

Campanha saúde mental

Transtornos mentais roubam um pedaço da vida, a desassistência rouba o resto

Com este slogan, o Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (SIMERS) lançou a campanha no Dia Mundial da Saúde (7 de abril) para alertar a população e todas as esferas de poder público sobre a falta de assistência na saúde mental. Há um descompasso entre o aumento do número de portadores de transtornos mentais e comportamentais no país e a estrutura de atendimento público oferecido para atender a população. Acesse www.7deabril.com.br e apoie esta causa!
Tags: Depressão Desassistência em saúde mental suicídio

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